Um artista de hoje não tem mais que dizer "eu sou um pintor" ou "um poeta" ou "um performer" ou "um dançarino". Ele é simplesmente "um artista". Assim, todas as instâncias da vida se abrirão a ele. (Allan Kaprow, 1958)
Entre os diferentes e múltiplos sentidos permitidos, pode-se afirmar que o hibridismo nas artes é a impossibilidade de conceituar uma criação artística como pertencente a uma única vertente, categoria ou cultura, decorrente do ilimitado experimentalismo da arte contemporânea. Pensando no que comumente se estabelece como artes plásticas, não há mais limites entre pintura e desenho, ação e performance, objeto e escultura, instalação e site-specific work. As criações desse segmento são invadidas ou invadem o cinema, o teatro, a dança, a música, o espaço urbano, o ciberespaço, o design, os meios de comunicação, a política, as relações sociais ou a biotecnologia, sem querer ocupar o espaço conquistado por eles. Por outro lado, torna-se cada vez mais difícil, também, estabelecer diferenças entre processos artísticos que caracterizem um lugar ou uma cultura específica.
Hibridizando modalidades e categorias artísticas e fazendo uso de novos materiais e de tecnologias eletrônicas em desenvolvimento - que permitem novas manipulações de dados, imagens e sons - os artistas atuais reavivam preocupações e impressões particulares ou coletivas (auto-referenciais ou não) sobre a própria arte ou sobre o mundo em que vivem. Cada qual com sua cultura e com sua forma de expressão contemporânea, sem apelar para o nacionalismo, os artistas contemporâneos tornam universais suas manifestações até então regionais.
O crítico Nicolas Bourriaud considera que o artista na atualidade, não sendo mais um criador, é um intruso em todos os outros campos, selecionando signos, explorando campos de produção, manipulando-os e construindo ligações entre eles. Como um avião furtivo, pode ser imperceptível ao radar do espetáculo, mas é extremamente eficaz ao apontar sempre para as situações mais críticas. Bourriaud considera que o artista contemporâneo, como um diretor de cinema, faz o casting para suas criações, tratando suas exposições como filmes sem câmera.
O artista contemporâneo habita todas as formas de arte. O problema não é produzir novas formas, mas inventar dispositivos de “habitat”. Habitar formas de arte já historiadas, reativando-as, mas também habitar outros campos culturais. É exatamente o que se passa na arte dos anos 2000: o artista é permanentemente um intruso em outros campos. Marie-Ange Guillerminot produz um vestido que poderia ser comercializado; Carsten Höller inventa uma droga euforizante; Fabrice Hybert monta uma empresa. Não é mais criar, mas surfar sobre as estruturas existentes. “Interdisciplinaridade” é, certamente, um termo freqüente na arte contemporânea: eu pessoalmente não creio que ainda exista, neste nível de criação, algo que possamos chamar de disciplinas. Existem apenas campos de signos, de produção, que os artistas exploram de ponta a ponta. Como conseqüência, o artista hoje, de Maurizio Cattelan a Alain Bublex, de Gabriel Orozco a Jorge Pardo, é uma espécie de “semionauta”: um inventor de trajetórias entre os signos. Ao mesmo tempo, esse “squat” é também um refúgio: a arte tornou-se hoje um tipo de abrigo geral para todos os projetos que não se ajustam a uma lógica de produtividade ou de eficácia imediata para a indústria e para a sociedade de consumo (Borriaud, 2002).
A desmaterialização da arte, provocada por esses processos híbridos de criação artística contemporânea, aliada aos novos hábitos de moradia e comportamento urbano, fez ainda ruir outro conceito secular, inerente ao fazer artístico: o mito do ateliê. O artista contemporâneo, salvo raríssimas exceções, não dispõe mais de um grande estúdio de trabalho, por vários motivos. Sobre esse comportamento, considera Bourriaud:
O ateliê perdeu sua função inicial: ser “o” lugar de fabricação de imagens. Como resultado, o artista se desloca, vai para onde as imagens são feitas, insere-se na cadeia econômica, tenta interceptá-las. O ateliê, portanto, não é mais o local privilegiado da criação, ele é apenas o lugar onde se centralizam as imagens coletadas por toda parte. Além disso, um ateliê é onde a matéria-prima é manipulada. Há um século, encontraríamos ali essencialmente potes de tinta ou argila; hoje, ele pode conter imagens de revista, televisão, situações sociais, carros, qualquer coisa. As matérias-primas da arte contemporânea são tão diversificadas, que o tamanho do ateliê varia segundo as práticas e o projeto artístico. (...) Três quartos dos artistas trabalham em casa, em um pequeno espaço que se transformou em ateliê. É uma coisa tola, mas que tem relação com a crise imobiliária: não é mais possível ter ateliês imensos, e seus tamanhos se estreitam com a flutuação dos aluguéis (Bourriaud, 2002).
A desmaterialização da arte, provocada por esses processos híbridos de criação artística contemporânea, aliada aos novos hábitos de moradia e comportamento urbano, fez ainda ruir outro conceito secular, inerente ao fazer artístico: o mito do ateliê. O artista contemporâneo, salvo raríssimas exceções, não dispõe mais de um grande estúdio de trabalho, por vários motivos. Sobre esse comportamento, considera Bourriaud:
O ateliê perdeu sua função inicial: ser “o” lugar de fabricação de imagens. Como resultado, o artista se desloca, vai para onde as imagens são feitas, insere-se na cadeia econômica, tenta interceptá-las. O ateliê, portanto, não é mais o local privilegiado da criação, ele é apenas o lugar onde se centralizam as imagens coletadas por toda parte. Além disso, um ateliê é onde a matéria-prima é manipulada. Há um século, encontraríamos ali essencialmente potes de tinta ou argila; hoje, ele pode conter imagens de revista, televisão, situações sociais, carros, qualquer coisa. As matérias-primas da arte contemporânea são tão diversificadas, que o tamanho do ateliê varia segundo as práticas e o projeto artístico. (...) Três quartos dos artistas trabalham em casa, em um pequeno espaço que se transformou em ateliê. É uma coisa tola, mas que tem relação com a crise imobiliária: não é mais possível ter ateliês imensos, e seus tamanhos se estreitam com a flutuação dos aluguéis (Bourriaud, 2002).
Para Lúcia Santaella, o hibridismo é um traço dominante dos meios de comunicação de massa, que influencia e se deixa influenciar pelos meios de produção artística.
Por exemplo, o cinema mistura som, imagem, diálogos e figurinos. Isso leva à facilitação da comunicação ao se reforçar o significado através de uma relação intersemiótica. As “belas artes”, ou seja, a pintura, a escultura e a música, foram se transformando e perdendo seu caráter de pureza, ao incorporarem máquinas reprodutoras de linguagem e ao utilizar dispositivos tecnológicos de produção. Esse uso em comum dos meios de produção entre os meios de comunicação e os meios artísticos deve-se em grande medida à apropriação pelos indivíduos dos dispositivos tecnológicos da cultura das mídias, bastante diferente da lógica da comunicação de massa. O acesso facilitado a esses equipamentos deu origem à novas formas de arte tecnológica, inaugurando uma nova cepa nas artes, as quais, através do experimentalismo, foram moldando um novo olhar artístico, mais identificado com a contemporaneidade (Santaella, 2005).
Por exemplo, o cinema mistura som, imagem, diálogos e figurinos. Isso leva à facilitação da comunicação ao se reforçar o significado através de uma relação intersemiótica. As “belas artes”, ou seja, a pintura, a escultura e a música, foram se transformando e perdendo seu caráter de pureza, ao incorporarem máquinas reprodutoras de linguagem e ao utilizar dispositivos tecnológicos de produção. Esse uso em comum dos meios de produção entre os meios de comunicação e os meios artísticos deve-se em grande medida à apropriação pelos indivíduos dos dispositivos tecnológicos da cultura das mídias, bastante diferente da lógica da comunicação de massa. O acesso facilitado a esses equipamentos deu origem à novas formas de arte tecnológica, inaugurando uma nova cepa nas artes, as quais, através do experimentalismo, foram moldando um novo olhar artístico, mais identificado com a contemporaneidade (Santaella, 2005).