Aspectos Culturais do Município de Venda Nova do Imigrante-ES
Por Shayra Amadeu Rodrigues Batista, graduanda em Artes Visuais pela Ufes
Pólo de Guaçuí-ES (Primeiro Semestre/2008)
Por Shayra Amadeu Rodrigues Batista, graduanda em Artes Visuais pela Ufes
Pólo de Guaçuí-ES (Primeiro Semestre/2008)
Iniciarei os relatos dos resultados do meu objeto de estudo partindo da idéia de que cultura é memória e memória em movimento e levando em consideração a afirmativa de que cultura é um conceito com várias definições que serão mencionadas de maneira intrínseca na dinâmica cultural do município estudado.
Sem memória padrões culturais se afunilam, extinguindo-se. O crescimento industrial e os tempos modernos (ocorrido a partir do final do século XIV) fizeram com que alguns grupos sociais tivessem um grande impulso no seu crescimento e outros entrassem rapidamente num processo de deculturação perdendo sua identidade cultural, simplesmente desaparecendo. A busca por novos materiais, a exigência cada vez maior de mão-de-obra e a necessidade de novos mercados para a expansão industrial dos tempos modernos se responsabilizaram por surgimento de diferentes sociedades. O município de Venda Nova do Imigrante surgiu exatamente por essas questões. Com o fim da escravidão no país as lavouras ficaram sem a mão-de-obra barata dos escravos sendo então abandonadas pelos senhores de engenho. Ocorreu então um fato que marcaria profundamente aquelas terras geladas e montanhosas do Espírito Santo e que definiria de maneira contundente os padrões culturais, a identidade cultural daquele povo: a chegada dos italianos em busca do seu eldorado.
Observando um folder do município tema do meu estudo pude perceber o conceito de cultura por eles assim definido: - “os vendanovenses preservam a cultura de seus antepassados e transmitem para as crianças o que aprenderam com seus avós e bisavós,” tratando-se da significação do termo apresentado segundo Foster, apud Lakatos (1996, p. 310), esse fenômeno é a forma comum e aprendida da vida compartilhada pelos membros de uma sociedade, constante da totalidade dos instrumentos, técnicas, instituições, atitudes, crenças, motivações e sistema de valores conhecidos pelo grupo.
Manter padrões culturais com base num modo de vida sistêmico em que a preservação e vivência de suas crenças, valores, tradições e costumes é compartilhada por todos numa sociedade ora fechada em si foi a forma encontrada pelo grupo social de garantir sua identidade. As lavouras de café que prosperaram, a comunidade composta por italianos que se emancipou transformando-se em município são os motivos do orgulho patriota de cada cidadão vendanovense, demonstrado explicitamente nas cores da bandeira do município (as mesmas do país de origem dos seus colonizadores) no próprio nome da cidade – Venda Nova do Imigrante, o idioma italiano que faz parte da grade curricular nas séries finais do ensino fundamental numa tentativa de não deixar “morrer” as tradições, repassando-as de geração para geração, e o fenômeno cultural que foi terem colocado o município no cenário nacional através da Festa da Polenta, onde o principal atrativo é o prato típico que no início da colonização sustentava as valentes famílias desbravadoras. A festa é o ponto máximo do orgulho italiano. É a representação coletiva da tradição herdada de seus antepassados e que é compartilhada com todos, não só com as suas crianças como cita o folder, pois a comunidade percebe que nenhuma sociedade ou cultura poderá existir parada no tempo, imutável ou isolada. Existem grupos sociais que preservam hábitos, costumes, valores e até mesmo a forma de se comunicarem - em italiano, mas mesmo ali entre esses grupos conservadores é possível observar a dinâmica da cultura local, seja numa vestimenta, num gesto ou no fato de possuírem um eletroeletrônico ou eletrodoméstico que lhes facilitem o plantio ou a colheita, a comunicação ou de como aquecem a casa no inverno rigoroso. “Cada sistema social está sempre em mudança. Entender as mudanças é importante para entender e atenuar o impacto das inevitáveis transformações, assim como para evitar o choque entre as gerações ou mesmo evitar preconceitos” (TOMAZZI, 1999). Esse conceito reflete o comportamento da sociedade vendanovense que dinamiza a cultura local seja através do movimento interno de seus integrantes, ou pela ação de interação com outras culturas. Eles encontraram no agroturismo uma maneira de difundir, compartilhar sua identidade cultural e trocar experiências na convivência com outros povos, pois de acordo com Pires, 2004, pelo menos um traço de uma cultura persiste ao tempo, e este mesmo pequeno traço é colocado em contato com outra cultura, eles interagem e se afetam. Foi a capacidade de criar e recriar seu cotidiano e sua produção material e imaterial que permitiu aquela comunidade alcançar a ascensão social mas sem abandonar padrões e traços culturais, incorporando novos elementos, novos conceitos ao estilo de vida vivido desde o tempo de sua colonização, numa substituição gradativa e constante da carriola por tratores, lampiões por luz elétrica, fogão a lenha por fogão a gás, roupas costuradas artesanalmente em casa por peças compradas em lojas.
Venda Nova do Imigrante apresenta um sistema cultural em processo de modificação partindo de lentas transformações internas através de constante interação das diferentes sociedades presentes e atuantes dentro do seu cenário. O fato de reproduzirem aspectos do seu cotidiano numa demonstração simbólica do modo de vida local através do agroturismo é uma tentativa de manter viva a memória cultural ao mesmo tempo que isso pode ser apontado como a dinâmica de transformação cultural que se dá através da relação interpessoal com outros grupos sociais reforçando a idéia que tomei por base para o início dos meus relatos – cultura é memória e memória em movimento.
Dentro desse contexto, venho propor um projeto de estudo onde se discuta a importância e a inserção do indivíduo no cenário da dinâmica cultural.
O Projeto de Estudo: Compreendendo nossa Identidade Pessoal e Local tem como finalidade proporcionar ao aluno o conhecimento de sua própria história e a história de sua comunidade, bem como desenvolver a percepção de que o ambiente ao qual está inserido já passou por diversas transformações e está sujeito a novas mudanças. O projeto em questão se desenvolverá baseado na necessidade constante de se conhecer e de se valorizar a história pessoal e a história de sua comunidade por parte dos alunos e moradores locais. Ele proporcionará situações que facilitarão a percepção de que todas as experiências vividas e o espaço que ocupamos são fatores determinantes na construção de nossa identidade e autonomia. O projeto segue um roteiro metodológico. Observe:
- Levantar questionamentos relacionados aos conhecimentos dos alunos sobre o que sabem e o que querem saber a respeito de sua história e a história de sua comunidade;
- Pesquisar em casa, com os pais, situações desconhecidas de sua história;
- Confeccionar o mapa com trajeto familiar de cada indivíduo (saber de onde veio e por onde a família já passou);
- Produzir a própria biografia;
- Investigar sua descendência;
- Confeccionar árvore genealógica;
- Montar álbum de família;
- Organizar passeios para a observação do ambiente escolar e comunitário e produzir cartaz;
- Entrevistar pessoas antigas sobre a história da comunidade;
- Confeccionar cartaz demonstrando as transformações ambientais e históricas ocorridas na comunidade;
- Comparar fotos antigas com atuais da comunidade;
- Listar gírias, piadas, palavreado de antigas gerações e fazer um paralelo com o modo de se comunicar da geração atual;
- Traçar costumes, pratos típicos, vestimentas, recursos tecnológicos das gerações passadas e atuais;
- Organizar exposição de utensílios antigos e atuais que são comparando sua funcionalidade e evolução;
- Organizar um portfólio contendo as atividades desenvolvidas e doá-lo à Casa da Cultura do município. Os objetivos do desenvolvimento desse projeto de estudo são que o aluno reconheça que cada pessoa é única, especial em sua individualidade e objeto direto de transformação cultural, além de ser capaz de apontar as mudanças significativas ocorridas na dinâmica cultural local e identificar os instrumentos que proporcionaram tais mudanças.
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